Esta tarde
(manhã/noite, dependendo de quando vocês lerem isto) trago à baila assuntos “fracturantes”
e eu juro que só me apetece fracturar esta gente. Ao ler o jornal “público”
deparei-me com uma notícia que dizia “El Salvador nega aborto a mulher doente,
cujo bebé morrerá logo após o parto”. Não me quis precipitar, pois por vezes os
jornais abusam em títulos sensacionalistas. Afinal, o caso era ainda pior. Uma
jovem, de 22 anos, grávida de 23 semanas, doente de lúpus, desenvolveu só por
isso uma gravidez de alto risco. A agravar esta história, o feto sofre de
anencefalia (que basicamente significa que o feto nunca vai chegar a ter
encéfalo ou calote craniana), e por isso morrerá assim que nasça. Cada pessoa
conta a sua versão da história, mas até aqui apresentei factos facilmente
relatáveis e explicáveis por médicos. Objectivamente e com a saúde da mãe a
deteriorar-se e o feto a sofrer de uma malformação irreversível, o lógico seria
o aborto. Isto não seria um atentado a vida do bebé, porque ele nunca será um
bebé, ele nunca irá brincar, rir, falar, crescer, aprender, existir. Mas existe
uma mãe, que é um ser humano e que tem outro filho para criar, esses sim
existem, respiram, brincam, riem e choram. Sendo a favor ou não do aborto, o
certo é que mesmo os conservadores se declaram pró-vida. Assim, o aborto seria
uma solução lógica, mesmo indo contra a legislação que vigora naquele país. O
que me espanta ainda mais é que num júri composto por cinco elementos, apenas
um votou a favor do aborto. Porquê? Valores cristãos? Se deus existe, de
certeza que ele não iria querer que uma pessoa morresse, a outra nunca chegasse
a viver e um filho ficasse órfão. Esta jovem só quer viver e, ninguém estará
mais destroçada por saber que o bebé irá morrer a nascença, do que ela. Todavia,
ela não precisa de morrer por isso. Salvaguardar os direitos de uma criança que
nunca vai ter noção de existir, nos poucos minutos de vida que terá, em troca
da vida de uma mãe e sacrificando outro filho que poderá ficar órfão. Ser
conservador e pró-vida é uma coisa, agora isto é uma prostituição intelectual
em nome de valores cristãos que de valor, pouco têm. Uma palavra para isto:
Foda-se. Quando em duas semanas,
uma pessoa se suicida em França, por ser contra o casamento homossexual e um
aborto é negado desta forma, algo de muito errado se passa nesta sociedade dita,
evoluída. Há demasiada podridão à superfície, demasiadas pessoas preocupadas
com éticas, morais e o caralho que os valha, quando há pessoas que precisam da
nossa compaixão e compreensão e isso sim são valores cristãos e universais.