O que mais custa é não ouvir a
minha língua. É complicado estar num sítio longe da civilização, em que as
pessoas emitem grunhidos estridentes e quase imperceptíveis, não se consegue
perceber a língua que falam. Não! Não fui viajar para um país longínquo,
falo-vos das viagens nos comboios da CP. A verdade é que sinto mesmo falta de
ouvir falar a minha língua (deve ser assim que os emigrantes se sentem lá fora).
Eles (passageiros “habituais”)
são tantos que, às tantas, o extraterrestre sou eu. E o mais assustador é que
vêm em cores diferentes e com formas diferentes. Alguns parecem chateados,
outros parecem surpreendidos, alguns sentem-se deslocados, comum a todos é o
facto de utilizarem “gritómetros”. Gritómetros são aparelhos tecnológicos
parecidos com o telemóvel, mas que são utilizados para gritar com a pessoa que
estará do outro lado. Se isso é incomodativo? Sim, bastante, mas eles têm uma
justificação para usar os “gritómetros”, é que aparentemente a pessoa que os
está a ouvir do outro lado, estará muito longe, talvez até no estrangeiro e
assim se eles não gritarem a voz não chega lá.
Outra interrogação que eu faço é
se haverá vida inteligente no comboio? Do que eu pude decifrar dos dialectos
que me afrontam em cada viagem, pude discernir palavras como “mini-preço”, “pingo-doce”,
“continente”, o que mostra, claramente, quais são os seus locais predatórios e
que utilizam para caçar.
Serão estes seres amigáveis? Uns
são e limitam-se a passar a viagem como eu, alheados de tudo e com sorrisos
furtivos devido às interacções que muitas vezes existem nestas viagens. Outros
aparentam querer fazer mal a muita gente (provavelmente tiveram maus pais), são
os chamados “bandidos”, “malfeitores”, “bandalhos”, “gandis”, “gatunos” ou “Miguel
Relvas” (neologismo).
Outra característica típica da
população dos comboios é o seu cheiro. Esse, é muito variável e pode ir desde
caril a naftalina, passando por variados tipos de peixe, ocasional catinga e,
por fim, aquele que eu denomino por “com a breca, cheira a morte”.
Por hoje é tudo. Nos próximos capítulos
talvez vos leve ao deserto (comboio da Fertagus), ou finalmente desvende que o livro
“viagem ao centro da terra” de Júlio Verne é baseado numa viagem minha até
telheiras no metro de Lisboa.
I`ll smell you all later
O QE EU ME RI !!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirfico tão feliz por viajar nos comboios com destino ao deserto, em que toda quase toda a gente vai calada a ouvir a rfm :P
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