sábado, 6 de outubro de 2012

Carta aberta


Caras pessoas da empresa Comboios de Portugal, foi ao reparar nos repetitivos cartazes, a anunciar repetitivas greves, que eu me decidi por escrever esta carta. Em especial um chamou-me a atenção, esse cartaz em particular falava do alargamento da greve para os próximos dias, mas o que me chamou a atenção foi o que um cidadão indignado escreveu por cima. Em frente à palavra “greve” ele escreveu reaccionária. Depois, no meio da folha A4 que anunciava os dias da greve, foi escrito a seguinte frase: “A CP faz greve para chamar a atenção dos ricos, mas os pobres é que pagam”.
Ora, eu não subscreveria esta afirmação por completo, afinal os ricos também sofrem com isto. Basta pensar que com a greve, este nicho da população (cerca de 8%) tem pela frente mais engarrafamentos e mais noticias “aborrecidas” sobre esta temática que lhes é alheia. Por outro lado, as pessoas a quem querem fazer chegar esta greve (políticos), têm uma sensibilidade social igual à de um urso pardo que passou duas semanas sem comer. Por esta razão, era de pensar que além da população que utiliza estes transportes, também vocês (que perdem dias de salário) saíssem prejudicados com esta insensibilidade.
No entanto, parece-me que a maior dose de insensibilidade social parte de vocês. Se não vejamos, segundo apurei os trabalhadores da vossa empresa descontam regularmente para o sindicato, o que faz que nestas alturas os dias de trabalho “gazeteiros” sejam cobertos pelo fundo do sindicato. Sendo assim, vocês gozam os dias de férias que o governo tira ao resto da função pública.
Poderemos agora falar nas vossas razões, que as hão de ter e, possivelmente, escritas em acta. O problema aqui é que ter razões numa empresa mal gerida há tantos anos e que, encabeça a lista de empresas públicas que dão maiores prejuízos ao país, é algo pouco sensato. Principalmente na maneira como procuraram chamar a atenção para essas razões. A verdade é que a greve não vai fazer a empresa lucrar mais e, pior que isso, compramos títulos de transporte mensais, não podendo usufruir da qualidade e pontualidade do transporte.
“Deixe o carro em casa e venha de comboio”, parece-me uma frase bonita, colada em muitos dos vossos transportes. Torna-se algo ridícula em alturas destas não acham?
Obviamente, não vos tiro o direito à greve, só acho que um pouco de sensatez cai bem em qualquer cabeça. Como os meus pais me ensinaram “A nossa liberdade acabam onde começa a liberdade dos outros”. Isto significa que talvez haja outras maneiras mais eficazes de serem ouvidos sem provocarem este caos nas classes que nada podem fazer para vos ajudar. Não me parece que prejudicando os estudantes universitários, idosos que se deslocam a consultas médicas, ou trabalhadores da mesma função pública que vos acolhe, se vão fazer ouvir e resolver os vossos problemas.
Compreendo a insatisfação com o corte nas remunerações, o alargamento do período de trabalho e a falta de pagamento das horas extraordinárias. Porém, se reagíssemos todos como vocês, e muita gente se queixa do mesmo, o país parava.
Quando um país se sente tão à beira do precipício, o melhor é puxá-lo para cá e não desequilibrá-lo ainda mais.
Sem mais de momento,
N.P.

5 comentários:

  1. Espero mesmo que tenhas mandado esta carta para algum sítio onde ganhe alguma notoriedade. Subscrevo :p

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  2. Não posso concordar com a tua última frase. É claro que as greves trazem várias consequências e, nesta altura, se determinadas pessoas ficam privadas de um dia de trabalho por motivos que lhes são completamente alheios, isso pode trazer grandes problemas, porque estamos numa altura mesmo muito difícil e ninguém pode dar-se ao luxo de dispensar um dia de salário.

    No entanto, num caso de greve bem sucedida, o país parava. E em parando, podia ser que, finalmente, o nosso querido Estado entendesse as consequências da insatisfação do povo. Porque de certeza que perderiam bastante mais do que se se decidissem a revogar metade das medidas que têm andado a aplicar. E se tivéssemos coragem para fazer parar o país, acho que a mensagem seria bem melhor entendida do que se se continuarem a incendiar caixotes do lixo nas ruas de lisboa...

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  3. Coitadinhos... têm ordenado médio de 1300€ (mais regalias). Não é muito. Para alguém que só precisa do 12ºano para trabalhar na CP se calhar até é. É também um trabalho stressante confesso.

    Mas é um ordenado maior que 15% dos portugueses que nem ordenado têm. E que cujo nível de stress deve ser bem maior.

    Pelo que percebi, fazem greves por não lhes aumentarem o salário nos dias de feriados e horas extras. Mas se não estão contentes, porque é que não fazem greve nos dias de greve geral como todos os outros mortais?...
    Sei que a greve é um direito, mas devia haver limites!

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