terça-feira, 22 de março de 2011

Adeus amigo

Seremos nós seres materialmente dependentes? Deixo de fora destas contas a dependência emocional, normal entre seres humanos. Apenas me pergunto se somos capazes de viver longe de alguns objectos. Esta vinculação de que vos falo, implica que na ausência de determinado material, nós, simplesmente, nos percamos.
A verdade é que o ser humano é um animal de hábitos e ao vivermos, frequentemente, na rota de influência de uma série de artefactos, acabamos por personifica-los. Damos-lhes alma e criamos uma relação pseudo-humana com um objecto inanimado, que, à semelhança do que fazemos com as pessoas, tomamos por certo nas nossas vidas.
Quando os perdemos, sentimos tristeza e acima de tudo estranheza, por já não saber organizar o nosso dia a dia da mesma maneira. Só não choramos e exteriorizamos a perda (bem isto não é consensual, pois há muitos que até choram), porque partimos do principio que outro igual virá. Essa é a grande diferença entre a máquina e a vida. A máquina é substituível.
Esta semana perdi uma máquina e uma vida. E a única coisa que consigo pensar é que de bom grado dava todas as máquinas em troca daquela vida. Só que o mundo não se processa dessa forma, se não também seria uma máquina e, nesse caso, seria substituível. Bem, a verdade é que não o é, logo nunca poderemos controlar a fronteira entre a vida e a morte. Sei que as palavras o vento as leva, mas, sinto a necessidade de dizer que perdi um amigo, um companheiro de 12 anos de aventuras e de muitos chinelos, sofás, almofadas, canteiros destruídos. Ele nunca me obedeceu e eu também nunca me preocupei muito com isso. Ironicamente, a única vez que eu queria que ele me obedecesse e que ficasse, ele não ficou.
Adeus Grants, foste com certeza o pior cão do mundo, mas o melhor amigo que se podia ter.

I`ll smell you all later

sábado, 12 de março de 2011

Memórias de um achado roubado

Qual é o momento da nossa vida em que somos verdadeiramente sinceros?

Antes de mais o que é a sinceridade?

Será sermos fiéis à ideia que temos de nós?

Será expressar o que achamos ser a realidade?

Isso leva-nos a uma questão fulcral. Será a nossa realidade real, ou apenas uma projecção daquilo que achamos, ou queremos ser.

Ser genuíno torna-se muitas vezes complicado quando não temos a completa noção do que somos.

Acho que no fundo só queremos ser aceites. Para isso, procuramos realidades que não são nossas, mas que queremos adoptar como tal.

No fundo torna-se humanamente impossível distinguir o que é nosso do que é dos outros.

Acabamos por ser projecções daquilo que queremos viver.

Acho que acima de tudo devemos lutar por essas projecções. Devemos tentar ser aquela pessoa que idealizamos. Objectivar é importante. Focarmo-nos no que interessa e esquecermo-nos do volátil, do passageiro.

Nós somos a tentativa daquilo que achamos ser e isso não é necessariamente mau.

Tal facto evita o nosso conformismo, faz-nos lutar por um “eu” mais real, mais verdadeiro e por isso mais pacífico. A chave da vida é tentarmos abrir as portas que nos realizam e deixar fechadas aquelas que nos falseiam.

Enfim amigos, divagar às vezes faz bem.

I`ll smell you all later

domingo, 6 de março de 2011

Apre, já estou atrasado outra vez!


Olá amigos. Devo desde já vos avisar que o assunto que me trás aqui hoje, não é dos mais alegres. Eu que até não sou de me queixar, desta vez vou ter de pôr a “boca no trombone” (salvo seja) e desabafar.

Pois bem, vim falar da instituição Comboios de Portugal, para os amigos CP.

Será que a CP tem noção do quanto as suas greves constantes e quase ininterruptas (já duram parcialmente desde o inicio de Fevereiro) afectam a vida das outras pessoas?

Gente que chega atrasada consecutivamente ao trabalho. Pais que não deixam os filhos a horas no infantário, ressacados que vêm do bairro alto e querem chegar rapidamente a casa (ok, estes têm que se aguentar “à bronca”). O pior é mesmo o amontoar de corpos com pulsação, a respirar de forma ofegante uns para cima dos outros, numa carruagem por demais “atafulhada”.

Um dia, dois dias, três dias de greve vá. Até ai compreendia eu. Todos temos direito a lutar por um trabalho condigno e devidamente remunerado. Agora, a minha liberdade acaba onde a liberdade dos outros começa. Não podemos actuar sem pesar os pós e os contras, isto quando uma atitude nossa pode ter consequências na vida dos outros. Não se podem privilegiar uns em benéfico de outros, para isso já bastam os políticos (vá, sem querer generalizar demais).

Tracemos agora o perfil à CP.

Empresa pública e por isso paga com os impostos dos Portugueses. Possui o maior rácio de patrões por empregados., em média um patrão para dez subalternos.

A nível de comparação receitas/despesas, destaca-se como sendo uma das empresas que dá mais prejuízo ao país. De ressalvar também que é das empresas públicas Portuguesas com um índice de produtividade mais baixos. Obviamente não podemos direccionar as culpas todas para aqueles que fazem greve. Antes pelo contrário, apesar de as greves prejudicarem, aqueles que não fazem greve são os maiores culpados. Os gestores, aqueles que ganham o mesmo no final do mês haja uma ou duas ou dez greves. Se a empresa chegou ao que chegou é, acima de tudo, porque tem sido muito mal gerida.

Todavia, independentemente do prejuízo que tem dado, fechar a CP está fora de questão.Convenhamos que sem comboios, sobravam poucas opções para eu me conseguir “meter” em Lisboa. Ainda não fazem barcos de Pexiligais até à capital (é uma tristeza).

Vender a CP? Bem, até poderia resultar, mas para isso era preciso que alguém a quisesse comprar. Vamos tentar imaginar o anúncio que se colocaria nos classificados:

“Empresa mais pobre que o Sporting e mais endividada que um jogador de futebol dez anos depois de terminar a carreira.“ (perdoem-me se ofendi susceptibilidades) “Especializada no transporte via carris de transeuntes (muitos deles mal cheirosos). Com inúmeros comboios que pode fornecer em caso de penhora. Com trabalhadores super especializados em serem patrões e grevistas. Possui voluntários na zona de Sintra, especializados na arte de aligeirar e, por vezes, retirar carteiras, de forma a que o passageiro viaje com mais leveza. Preço negociável. Avisando desde já que têm de ser quantias avultadas, pois o país está em crise e precisa de dinheiro.”

Enfim, vamos rifar a CP e oferece-se um cabaz a quem lhe sair a fava (quer dizer, a CP).

I`ll smell you all later